sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Controle ultra-sonográfico de gestações


Brazilian Journal of Veterinary Research and Animal Science

Print version ISSN 1413-9596

Braz. J. Vet. Res. Anim. Sci. vol.38 no.2 São Paulo  2001



Controle ultra-sonográfico de gestações, de mortalidades embrionárias e fetais e do sexo de fetos bovinos zebuínos*
Ultrasonic control of early pregnancies, embryonic and fetal mortalities and fetal sex in zebu cattle

Breno José Pelozo de BARROS1; José Antonio VISINTIN1





RESUMO
Este trabalho avaliou a eficácia do ultra-som no diagnóstico precoce de prenhez e nas avaliações das mortalidades embrionárias e fetais e dos sexos de fetos em dois grupos de vacas zebuínas. Os animais que não retornaram ao estro aos 21 dias da Inseminação Artificial (G1) ou aos 14 dias da Transferência de Embriões (G2B) foram examinados aos 25 dias de gestação para o diagnóstico precoce de prenhez, aos 45 dias para avaliação das perdas embrionárias entre 26 e 45 dias e aos 60 dias para avaliações das perdas fetais entre 45 e 60 dias e dos sexos de fetos. O Grupo G2A foi examinado por palpação retal aos 45 dias para diagnóstico de prenhez e aos 60 dias para avaliações das perdas fetais e dos sexos de fetos. As taxas de prenhez foram, respectivamente, 94,6%, 88,1% e 83,4% aos 25, 45 e 60 dias de gestação. As taxas de perdas embrionárias e fetais e de abortos foram, respectivamente, 4,6%, 4,7% e 1,2%. As taxas de acertos do diagnóstico precoce de gestação e dos sexos de fetos foram 88,5% e 90,7%, respectivamente. A ultra-sonografia mostrou-se eficaz no diagnóstico precoce de prenhez aos 25 dias, nas avaliações das perdas embrionárias aos 45 dias e fetais aos 60 dias e no diagnóstico do sexo de fetos a partir dos 60 dias de gestação. Os exames ultra-sonográficos não causaram perdas gestacionais nos animais Bos indicus ou Bos indicus X Bos taurus.
UNITERMOS: Ultra-sonografia; Gravidez; Mortalidade embrionária animal; Mortalidade fetal; Sexagem animal.
 
 
INTRODUÇÃO
A técnica da ultra-sonografia vem-se destacando como um dos métodos mais esclarecedores e revolucionários para avaliar a dinâmica ovariana e realizar o diagnóstico precoce de gestação. Esta técnica ainda traz informações objetivas sobre as condições do complexo útero-embrião, as quais possibilitam o diagnóstico de perda gestacional, permitindo o tratamento do animal com prostaglandina para restabelecer uma nova prenhez em tempo mais curto. A sexagem fetal, pela ultra-sonografia, surge como uma nova perspectiva para o planejamento do rebanho, pois permite maior concentração de machos nos rebanhos produtores de carne ou de fêmeas nos de leite.
Curran et al.12 informam que a vesícula embrionária pode ser vista pela primeira vez aos 11,7 dias de gestação e o preenchimento do corno ipsis lateral ao corpo lúteo aos 16 dias e o contralateral aos 19 dias. O concepto é visualizado aos 20, os batimentos cardíacos aos 21, os membros anteriores aos 29 e os membros posteriores aos 31 dias de gestação. O embrião apresenta-se em forma de "C" entre 22 e 30 dias e de "L" entre 29 e 39 dias de prenhez. A vesícula alantóide é visualizada entre 23 e 27 dias, a fenda nos cascos entre 42 e 49 dias, os movimentos dos membros e da cabeça entre 42 e 50 dias e as costelas entre 51 e 55 dias. Pierson; Ginther32 localizaram uma estrutura alongada, não-ecogênica, no lúmen uterino (córion alantóide) como indicativo de prenhez, podendo ser confundida com fluidos intraluminais patológicos ou fisiológicos do 17º ao 18º dia do ciclo estral até o 2º dia do ciclo estral subseqüente. Kastelic et al.23 visualizaram a vesícula embrionária aos 20 dias com o embrião medindo 3 mm e os batimentos cardíacos aos 21 dias com diminuição da freqüência aos 26 dias. Aos 23 dias o saco alantóide é visualizado na região ventral do embrião, aos 28 dias os membros anteriores, aos 31 dias o âmnion circundando o embrião com 14 mm e aos 35 dias os placentomas medindo 6x2 mm.
Pierson33 descreveu 100% de acurácia no diagnóstico de gestação no 20º dia após a ovulação, Boyd et al.8 obtiveram 33% de diagnósticos corretos aos 16 dias e 100% aos 20 dias e Perry et al.31 afirmaram que o tempo mínimo para alcançar eficiência no diagnóstico é 25 dias, pois há dificuldades na diferenciação do fluido fisiológico intraluminal do estro e do proestro com o córion alantóide entre 18 e 21 dias. Totey et al.38 visualizaram a vesícula embrionária entre 18 e 20 dias e o concepto aos 19 dias de gestação, e Santos e Neves36 observaram acurácia do método a partir do 18º dia da ovulação.
Nas perdas embrionárias e fetais, Kastelic et al.23 salientaram que a degeneração embrionária sem luteólise ocorre lentamente, o que favorece a visualização das estruturas do concepto. As denominações do concepto, segundo Forar et al.15, foram conceituadas de embrião até 45 dias de gestação, de feto a partir de 45 dias, de feto abortado quando é expulso sem vida antes da data prevista para o parto e de natimorto quando morre no momento do parto.
Para a sexagem dos fetos, segundo Curran et al.13, a localização e a diferenciação da genitália externa são necessárias para distinguir o sexo. A estrutura visualizada é denominada de tubérculo genital, apresentando-se hiperecóico, com 2 lóbulos alongados e de forma oval. No 48º dia de prenhez, o tubérculo genital pode ser identificado ao ultra-som entre os membros posteriores, mas em posição ainda indefinida para avaliação dos sexos. A partir desta data inicia-se a migração do tubérculo genital em direção ao umbigo nos machos e à cauda nas fêmeas, originando o pênis e o clitóris, respectivamente. O tubérculo genital para identificação dos sexos dos fetos é observado pela primeira vez, após a migração, aos 56 dias nos machos e 53 dias nas fêmeas.
Este trabalho teve como objetivo observar a eficácia do ultra-som no diagnóstico precoce de prenhez aos 25 dias de gestação, assim como nas avaliações das perdas embrionárias entre 25 e 45 dias, perdas fetais entre 45 e 60 dias e sexos de fetos aos 60 dias de gestação na espécie bovina.
 
MATERIAL E MÉTODO
O Grupo 1 (G1) foi constituído de 101 animais da raça Nelore (Bos indicus), sendo novilhas e vacas repetidoras de estro, paridas e não paridas, em regime de criação extensiva, as quais foram inseminadas artificialmente. O Grupo 2 (G2) foi composto de 388 novilhas meio sangue Nelore-Simental (Bos taurus x Bos indicus), em regime de central de transferência de embriões, as quais foram utilizadas como receptoras de embriões e divididas de acordo com o número de exames ultra-sonográficos em subgrupos G2A (249) e G2B (139). O grupo G1 e o subgrupo G2B foram avaliados três vezes pela ultra-sonografia, sendo o primeiro aos 25 dias de gestação para o diagnóstico precoce de prenhez, o segundo aos 45 dias de gestação para o diagnóstico de perdas embrionárias entre 25 e 45 dias e o terceiro aos 60 dias de gestação para os diagnósticos de perdas fetais entre 45 e 60 dias e de sexos de fetos. O subgrupo G2A foi avaliado pela palpação retal para o diagnóstico de prenhez aos 45 dias de gestação e pela ultra-sonografía para os diagnósticos de perdas fetais entre 45 e 60 dias e sexos de fetos aos 60 dias de gestação.
Para avaliação dos animais foi utilizado o ultra-som SCANNER 480 VET da Pie Medical, com sistema B-MODE, transdutor bifreqüencial 5 MHz e 7,5 MHz e videoprinter Mitsubishi P66 para registro das imagens8. O transdutor foi introduzido no reto sob a palma da mão e posicionado sobre o aparelho reprodutor8 para visualizar a cérvix e o corpo uterino. Em seguida, foram examinadas a primeira, a segunda e a terceira curvaturas dos cornos uterinos e os ovários. Os exames ultra-sonográficos foram realizados sempre pelo mesmo profissional aos 25 dias, aos 45 dias e aos 60 dias após a ovulação, determinando no primeiro a presença do concepto, no segundo, a mortalidade embrionária entre 25 e 45 dias de gestação e no terceiro a perda fetal entre 45 e 60 dias de gestação e os sexos dos fetos. Foram estabelecidos dois tipos de diagnósticos de perdas gestacionais, as visualizadas quando se observou o concepto morto e as não-visualizadas quando não encontrou o concepto em comparação ao diagnóstico positivo anterior.
A interpretação das imagens do diagnóstico precoce de gestação foi realizada de acordo com Curran et al.12 e Kastelic et al.23, visualizando o concepto e sua estrutura e viabilidade. Para identificação e diagnóstico das perdas embrionárias e fetais foram adotados os critérios descritos por Kastelic et al.23 e Forar et. al.15, enquanto os exames para o diagnóstico dos sexos dos fetos basearam-se em Curran et al.13, com a visualização do tubérculo genital.
 
ANÁLISE ESTATÍSTICA
Para analisar os resultados foi empregado o Teste Qui-quadrado (X2) com nível de significância de 0,05%. Nas situações em que os valores foram menores do que 5, utilizou-se o Teste de Fisher.
 
RESULTADOS
Os resultados dos exames ultra-sonográficos para avaliar as taxas de gestação, mortalidades embrionárias e fetais e sexos de fetos em vacas que não retornaram ao cio aos 21 dias da inseminação artificial (G1) e aos 14 dias da transferência dos embriões (G2) estão demonstrados nas Tabs. 1, 2 e 3.
 
 
 
As taxas de gestação foram, respectivamente, para o grupo G1 (IA) de 87,1%, 79,2% e 76,2% e para o grupo G2B (TE) de 100%, 97,8% e 89,9% aos 25, 45 e 60 dias de gestação. O grupo G1 (IA) apresentou menor taxa de gestação em relação ao Grupo G2B (TE) aos 25, 45 e 60 dias de gestação e, conseqüentemente, de parição (p < 0,05). As taxas de perdas embrionárias e fetais e de abortos foram, respectivamente, para o grupo G1 de 7,9%, 3,0% e 2,0% e para o grupo G2B de 2,2%, 7,9% e 0,7%, não havendo diferença estatística (p > 0,05) entre os grupos de IA e TE (Tab. 1).
As taxas de dúvidas, erros e acertos no diagnóstico precoce de gestação foram, respectivamente, para o grupo G1 de 19,3%, 1,1% e 79,6% e para o grupo G2 de 5,0%, 0,7% e 94,3%, havendo diferença estatística (p < 0,05) entre os grupos quanto às dúvidas e acertos, ou seja, a maior taxa de dúvidas resultou conseqüentemente em menor taxa de acertos no grupo G1 (Tab. 2).
As taxas de dúvidas, erros e acertos no diagnóstico dos sexos de fetos foram, respectivamente, para o grupo G1 de 2,6%, 3,9% e 93,5% e, para o grupo G2, de 7,6%, 2,4% e 90,0% (Tab. 3), não havendo diferença estatística entre os grupos (p > 0,05).
 
DISCUSSÃO
De acordo com os resultados do diagnóstico precoce de prenhez (Tab. 2), as afirmações de Curran et al.12; Pierson33; Boyd et al.8; Santos e Neves36 e Totey et al.38 não são totalmente aplicadas na rotina a campo com alta acurácia. Houve dúvidas na interpretação das imagens em estágios muito precoces de gestação (Tab. 2), mesmo utilizando a técnica de avaliação da contractilidade e da ecotextura descrita por Bonafos et al.7 Não houve diferença quanto ao menor período de gestação para o diagnóstico precoce de prenhez entre os grupos G1 e G2B, concordando com O'Rourke et al.30; Hughes e Davies20 e Bach et al.2, os quais afirmaram que os componentes fetais e uterinos de vacas puras Bos indicus ou mestiças são idênticos quanto ao peso e ao tamanho. Em 23 exames realizados antes do 21º dia de gestação, a visualização do concepto só foi possível 1 vez, observando uma vesícula circular 14 dias após a inseminação artificial no G1, sem possibilidade de constatar a viabilidade da gestação, pois não foram visualizados os batimentos cardíacos. Os exames nesta fase apresentaram baixa acurácia e dificuldade na identificação da vesícula gestacional, havendo necessidade de intensa manipulação dos genitais para modificar a posição dos cornos uterinos e alcançar a eficiência nos exames. A porção dorsal da segunda e da terceira curvatura do corno uterino ipsis lateral ao corpo lúteo foram examinadas mais detalhadamente, pois são os locais onde se encontra o concepto entre 19 e 25 dias. A interpretação das imagens foi dificultada, pois a vesícula anecóica pode ser confundida com fluidos fisiológicos ou patológicos32 e com estruturas como folículos, vasos sangüíneos e bexiga repleta, que juntos formam um aglomerado em espaço restrito dentro da cavidade pélvica. A segurança no diagnóstico precoce de prenhez pela ultra-sonografia ocorreu com a visualização dos batimentos cardíacos a partir de 25 dias da inseminação artificial ou da monta natural em vacas que não retornaram ao estro, conseguindo-se maior rapidez, acurácia e especificidade no diagnóstico positivo31,35. Isto permite que as vacas não prenhes sejam tratadas com prostaglandina para retornar ao cio, diminuindo conseqüentemente o intervalo entre partos.
Neste trabalho, houve dois erros no diagnóstico precoce de gestação entre 22 e 25 dias (Tab. 2), não havendo diferença estatística entre os grupos G1 e G2 (p > 0,05), pois duas vacas com diagnóstico de não prenhes no primeiro exame foram confirmadas como prenhes no segundo exame, o que concorda com Chaffaux et al.10, que diagnosticaram sete vacas como não prenhes entre 21 e 25 dias, as quais foram confirmadas como prenhes após 30 dias de gestação; com Kastelic et al.24, que obtiveram acurácia de 84% no diagnóstico de prenhez e 65% de não prenhez e com Hanzen e Laurent18, que, examinando vacas entre 26 e 70 dias após a inseminação artificial, obtiveram sensibilidade de 97%, especificidade de 74% e detecção de não prenhez de 90%. Os resultados deste trabalho mostraram que o diagnóstico precoce de gestação deve ser realizado com muito critério e conhecimento das estruturas a serem visualizadas em cada momento. Deve-se também considerar outros fatores responsáveis pela variação nas taxas de diagnóstico precoce de prenhez pelo ultra-som como comportamento, condição do aparelho reprodutivo relacionada à idade e à raça3; erros nas anotações do histórico reprodutivo; condições de trabalho; freqüência do transdutor e número de exames por animal.
No primeiro exame foram constatadas 24 dúvidas no diagnóstico precoce de gestação (Tab. 2), havendo diferença estatística entre os grupos G1 e G2, mostrando, por conseqüência, menor taxa de acertos no grupo G1 (p < 0,05). Estas dúvidas foram todas confirmadas em estágios mais avançados, concordando com Pieterse et al.34, que utilizaram o ultra-som em dois momentos para o diagnóstico de prenhez, apresentando sensibilidade de 44,8% e 97,7% e especificidade de 82,3% e 87,8% no 21º e 33º dia de gestação, respectivamente.
As causas das perdas gestacionais são alvos de numerosos estudos9,26. A ultra-sonografia como método diagnóstico tem sido enquadrada como uma das causas de perda gestacional19, embora esteja em desacordo com Ball e Logue4, que demonstraram relação nula entre perda embrionária e exame precoce de prenhez e Galland et al.17, que detectaram menor trauma na vesícula amniótica durante o diagnóstico precoce com ultra-som em relação à palpação retal, e Hughes; Davies20, que não verificaram perdas embrionárias a partir da quarta semana em vacas examinadas anteriormente pelo ultra-som. Estas afirmações estão em concordância com os resultados deste trabalho (Tab. 1), não se observando diferença entre os grupos G1 e G2 em relação às perdas fetais, portanto o ultra-som não foi a causa das perdas fetais. As taxas de perda embrionária e fetal (Tab. 1, respectivamente, 4,6% e 4,7%) enquadram-se nas constatações de Forar et al.15, que observaram de 5,2% a 10,6% de perdas gestacionais. Os resultados deste trabalho, no entanto, não corroboram as afirmações de Mee et al.28, os quais sugeriram que 10% das gestações diagnosticadas precocemente pela ultra-sonografia resultaram em morte fetal ou perinatal, e de Coulthard11, que verificaram baixa taxa de prenhez em vacas palpadas aos 60 dias e que tinham sido submetidas ao exame ultra-sonográfico anteriormente.
Os fetos mortos e em degeneração visualizados e acompanhados pela ultra-sonografia, os quais permaneceram até 52 dias após o primeiro diagnóstico de morte fetal, não apresentaram nenhuma mudança uterina significativa à palpação retal até a expulsão, concordando com Kastelic et al.23, que observaram o retorno ao cio mais demorado em vacas com morte embrionária em relação às vacas que receberam luteolíticos, e Kassam et al.22, que esmagaram as vesículas gestacionais ao redor de 43 dias de gestação em quatro animais, observando sinais de cio em apenas uma fêmea. Ainda, a ultra-sonografia colabora no diagnóstico da prenhez de risco, pois a prevenção da perda torna-se impossível quando o concepto e os envoltórios estão em degeneração. Seria interessante o diagnóstico antes do 21º dia de gestação12, pois permitiria a prevenção das perdas embrionárias, uma vez que a maioria ocorre, segundo Betteridge6, antes dos 16 dias de gestação e, Lulai et al.27, dos 14 aos 17 dias após a fecundação quando o embrião deve bloquear o mecanismo da luteólise. Sabendo disso, Kastelic et al.25 não consideram perda embrionária no intervalo entre cios com menos de 24 dias, devido à dificuldade de diagnóstico, inclusive pela ultra-sonografia.
Os trabalhos que tratam de perdas gestacionais são discordantes quanto aos danos causados pela palpação retal1,5,39, portanto, a manipulação da genitália durante o diagnóstico de gestação pela ultra-sonografia ou pela palpação deve ser realizada por técnico habilitado. Os primeiros diagnósticos de sexo de fetos foram realizados por Müller e Wittkowski29, identificando o aumento do prepúcio e das mamas entre 73 e 120 dias de gestação, empregando transdutores de freqüências 3 e 5 MHz.
Definiu-se durante este experimento que o período ideal para o diagnóstico do sexo de fetos com máxima acurácia está ao redor de 60 dias, com possibilidade de diagnóstico entre 55 e 120 dias de gestação, conforme mencionado por Curran et al.13 A dificuldade de sexagem foi crescente à medida que os exames se distanciavam para menos de 60 dias de gestação devido à imaturidade do tubérculo genital e para mais em razão da semelhante ecogenicidade entre o tubérculo genital e as estruturas adjacentes, como a cauda e a coluna vertebral que estão se calcificando, assim como o deslocamento do útero para a cavidade abdominal em função do tamanho do feto, principalmente em vacas velhas, o que possibilita a indução de erros no diagnóstico21.
A apresentação do feto em plano longitudinal látero-lateral facilitou o diagnóstico do sexo, pois foram observados, em uma única imagem, os membros anteriores, o tórax, o cordão umbilical, os membros posteriores, a cauda e o tubérculo genital, visualizando em muitos casos a rafe ano-genital e a bolsa escrotal nos machos e as mamas nas fêmeas. Neste tipo de imagem tem-se a noção exata do posicionamento do tubérculo genital nos machos, mas nas fêmeas o tubérculo apresenta-se junto às vértebras sacrais e coccígeas, dificultando o diagnóstico. No plano longitudinal dorso-ventral há ampla visão do feto, o que facilita o diagnóstico, favorecendo tanto os machos quanto as fêmeas, as quais mostram o tubérculo genital logo abaixo da cauda37. No plano transversal, há maior dificuldade de diagnóstico tanto dos machos quanto das fêmeas. O mapeamento do feto é demorado e complicado, pois precisam ser visualizados vários planos para determinar o posicionamento do tubérculo, sendo mais difícil nas fêmeas devido à presença, no mesmo plano, do sacro, dos ísquios e das vértebras coccígeas.
A proporção de sexos manteve-se igual, sendo 50,2% de machos e 49,8% de fêmeas após o nascimento, enquanto os acertos no diagnóstico dos sexos foram de 90,7%, sendo 93,5% para o G1 e 90,0% para o G2, não havendo diferença estatística entre os grupos (p > 0,05). No entanto, ao considerar os casos duvidosos que foram confirmados, o índice foi de 97,3%, sendo 96,1% para o G1 e 97,6% para o G2 (Tab. 3).
Os erros no diagnóstico dos sexos dos fetos (Tab. 3) foram de 2,0% para os machos (3,9% para G1 e 2,4% para G2A), 0,7% para as fêmeas (1,5% para G2A) e 2,7% para ambos os grupos (3,9% para o G1 e 3,9% para G2A), não havendo diferença estatística entre G1 e G2 (p > 0,05).
As dúvidas que existiram entre os exames ultra-sonográficos neste experimento foram conseqüências de artefatos de técnica como concentração de ondas, sombras acústicas e reverberações, animais inquietos sem tranqüilizantes ou anestésicos, de inibição durante o aprendizado quando se examinavam vacas de alto valor e de diferentes idades gestacionais, embora estando dentro do período preconizado por Curran et al.13; Wideman et al.40; Perry et al.31; Beal et al.5; Curran14; Franck e Martinot16, Rajamahendran et al.35 e Stroud37. A taxa de dúvidas na sexagem de machos foi de 3,2%, sendo 1,3% no G1 e 3,7% no G2, estando a maioria no G2B (6,4%). As fêmeas apresentaram 3,4% de dúvidas, sendo 1,3% no G1 e 3,9% no G2, estando a maioria no G2B (7,2%). As taxas de dúvidas foram praticamente iguais entre machos e fêmeas (3,2% + 3,4% = 6,6%; Tab. 3), sendo todas confirmadas no segundo exame e ao nascimento, não havendo diferença estatística entre os grupos G1 e G2 (p > 0,05). De acordo com Curran et al.13 e Stroud37, as dúvidas podem conduzir a erros quando o sexo é determinado pela ausência e não pela presença do tubérculo genital após a sua migração.
 
CONCLUSÕES
A técnica da ultra-sonografia mostrou-se eficaz no diagnóstico precoce de prenhez aos 25 dias, assim como nas avaliações das perdas embrionárias entre 25 e 45 dias e fetais entre 45 e 60 dias de gestação, revelando que o diagnóstico precoce da prenhez é importante para determinar o período da gestação em que ocorrem as maiores perdas gestacionais.
O diagnóstico do sexo de fetos é seguro a partir dos 60 dias de gestação.
Os exames ultra-sonográficos não causam perdas gestacionais em animais Bos indicus ou Bos indicus X Bos taurus.
 
 
SUMMARY
This study analysed the efficiency of early pregnancy diagnosis and embryo and fetal mortality and sexing evaluation by ultrasound in two groups of zebu cows submitted to artificial insemination (G1) or embryo transfer (G2 = G2A and G2B). The animals that not returned to estrus at 21th day after artificial insemination (G1) and 14th day after embryo transfer (G2B) were examinated at 25th day of gestation for early pregnancy diagnosis, at 45th day for embryo mortality between 25th and 45th and at 60th days for fetal mortality between 45th and 60th days and sexing evaluation. The animals from group G2A were examinated by retal palpation at 45th day for gestation diagnosis and at 60th day for fetal mortality between 45th and 60th days and sexing evaluation. The pregnancy rates were 94.6%, 88.1% and 83.4%, respectively, to 25, 45 and 60 days of pregnancy. The embryo and fetal mortality and abortion rates were, respectively, 4.6%, 4.7% and 1.2%. The accurate early pregnancy diagnosis and fetal sexing were, respectively, 88.5% and 90.7%. The ultrasound was efficient to evaluate early pregnancy (25th day), embryo mortality (25th to 45th days), fetal mortality (45th to 60th days) and sexing (60th day). The detection of early pregnancy can be applied to establish the stages of highest embryo and fetal mortality rates in zebu cattle. This study revealed that embryo and fetal mortality rates in Bos indicus were not caused by ultrasound examination.
UNITERMS: Ultrasonography; Pregnancy; Embryo mortality; Sexing.
 
 
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domingo, 13 de fevereiro de 2011

IATF - Custo Benefício

Rev Bras Reprod Anim, Belo Horizonte, v.33, n.1, p.53-58, jan./mar. 2009. Disponível em www.cbra.org.br _________________________________________ Recebido: 03 de junho 2008 Aceito: 13 de outubro de 2009

Considerações técnicas e econômicas sobre reprodução assistida em gado de corte

Technique and economic considerations about assisted reproduction in beef cattle

José Ribamar de S. Torres-Júnior1, Waldjanio de Oliveira Melo2, Acaína Kiss da Silva Elias2, Laurena Silva Rodrigues2, Luciano Penteado3, Pietro Sampaio Baruselli4

1DMV/CCAA/UFMA Campus IV, Chapadinha, MA, Brasil

2Acadêmicos do Curso de Zootecnia UDP/UFRA, Carajás, Brasil

3Méd. Vet. Firmasa-IATF, Campo Grande, MS, Brasil.

4Departamento de Reprodução Animal, FMVZ/USP, São Paulo, SP, Brasil

Correspondência: ttorresjunior@yahoo.com.br

Resumo

A reprodução assistida em bovinos de corte tem sido implementada visando aumentar a eficiência reprodutiva nos rebanhos. Para isso, faz-se necessário conhecer as condições acerca do sistema de produção para elaborar estratégias de ação efetivas. Entre elas, encontram-se a seleção de machos e fêmeas com base no potencial de fertilidade, a adoção de estação de monta e a implementação de biotecnologias de custo-benefício favorável. Os dados retrospectivos aqui apresentados apontam vantagens técnicas e econômicas obtidas com o uso adequado de inseminação artificial em tempo fixo, com retorno de 19,61% em relação ao capital investido, redução do intervalo de partos e ganho genético.

Palavras-chave: bovinos, IA, IATF, reprodução assistida, estação de monta

Abstract

The assisted reproduction in beef cattle has been introduced to improve the reproductive efficiency. In this way, is necessary to evaluate the production system of farm and to elaborate effective handling action strategies. These actions are the selection of sires and cows for fertility potential, adoption of breeding season and use of positive cost-benefit biotechnologies. The retrospective data show economic advantages of the fixed time artificial insemination, allowing additional profit of 19.61% in relation to investment (U$), reduction of the partum intervals and genetic gain.

Keywords: cattle, AI, FTAI, assisted reproduction, breeding season

Introdução

A bovinocultura brasileira passa por uma fase de reconhecimento da importância do uso de tecnologias no setor produtivo, principalmente no segmento de corte, com grande participação das raças zebuínas (Bos taurus indicus), como a raça Nelore, e também das raças taurinas (Bos taurus taurus) de origem europeia e seus cruzamentos. A perspectiva de retorno financeiro por meio da eficiência nos sistemas de produção pode ser intensificada com o uso de eficientes técnicas de manejo e biotecnologias aplicadas à reprodução animal. A adoção da estação de monta com uso de animais selecionados e a inseminação artificial são importantes ferramentas que auxiliam no melhoramento genético e no aumento da produtividade no setor (Vishwanath, 2003).

A pecuária de corte exige dos produtores máxima eficiência para garantia de retorno econômico. Um aspecto relevante a ser mensurado é o estabelecimento de índices reprodutivos que permitirão identificar claramente os pontos fortes e fracos do sistema e apontar as áreas que podem ser melhoradas (Faria e Corsi, 1997). Usando os índices reprodutivos e produtivos como indicadores de desempenho do rebanho, é possível antecipar, calcular, organizar e melhorar os eventos ligados à reprodução do rebanho (Ferreira, 1991; Faria e Corsi, 1997).

Assim, elevados índices de produção, associados à alta eficiência reprodutiva, devem ser metas que norteiam os técnicos e criadores a alcançarem maior produtividade e satisfatório custo-benefício na atividade. Neste contexto, a otimização da mão de obra e a manutenção da eficiência reprodutiva são os principais fatores que contribuem para a melhoria do desempenho produtivo e da lucratividade dos rebanhos comerciais (Vasconcelos e Meneghetti, 2006).

As biotecnologias aplicadas à reprodução animal, como inseminação artificial, associadas a um manejo adequado do rebanho, têm sido implementadas por técnicos e produtores, visando aumentar a qualidade e a quantidade de bezerros genética e fenotipicamente superiores.

Este artigo tem como objetivo fazer uma abordagem acerca das decisões e etapas a serem incorporadas na definição de indicadores de desempenho reprodutivo em bovinos de corte, como escolha de animais para reprodução, época de acasalamento e, ainda, suscitar uma breve discussão sobre as vantagens, limitações e custos da adoção de tecnologias. Torres-Júnior et al. Considerações técnicas e econômicas sobre reprodução assistida em gado de corte. Rev Bras Reprod Anim, Belo Horizonte, v.33, n.1, p.53-58, jan./mar. 2009. Disponível em www.cbra.org.br 54

Organização de uma propriedade para iniciar o manejo reprodutivo assistido

A primeira etapa é avaliar a situação atual do negócio. O autoquestionamento por meio de perguntas simples pode direcionar o produtor em relação a que decisões tomar no seu empreendimento. As principais perguntas a serem respondidas são: Como está o meu negócio? Ele está gerando lucros? Quais os pontos fracos e fortes? Quais são as áreas de oportunidades que tenho? Quais são as ameaças para o meu negócio? Como está a motivação e a capacitação dos meus funcionários?

Com as respostas a essas perguntas, automaticamente virá a necessidade de organização da propriedade como estruturação física e benfeitorias, escrituração zootécnica, identificação numérica individual dos animais, calendário de atividades e registro das principais ocorrências e práticas de manejo utilizadas (datas e pesos ao nascimento e desmame, ocorrência de mortes e abortamentos, diagnóstico de gestação, suplementação, vacinações, vermifugações, etc.)

Assim, poderá ser feita uma análise do desempenho individual e coletivo dos animais, bem como dos fatores que afetam a produção e os custos, definindo planos de ação, metas e objetivos para corrigir os problemas (pontos fracos/ameaças) e aproveitar as oportunidades e os pontos fortes.

Definição de estratégias de manejo reprodutivo

Seleção de touros e matrizes para a reprodução

Touros

È importante incorporar touros de fertilidade comprovada no programa reprodutivo. O exame andrológico realizado pelo médico veterinário direcionará a seleção de touros pelo potencial de produção de sêmen, características raciais, comportamento e masculinidade. A seleção de touros deve também contemplar o seu mérito genético por meio do estudo da genealogia, ou seja, a avaliação do potencial de fertilidade e produção herdado dos seus pais, avós, etc. É importante atribuir alto grau de responsabilidade e critério na escolha dos reprodutores, pois o impacto da fertilidade do touro no desempenho reprodutivo do rebanho é diversas vezes maior do que o da vaca, visto que a proporção touro: vaca pode variar de 1:25 até 1:50 em regime de monta natural nas condições usuais de acasalamento a campo (Manual ..., 1998; Kastelic e Thundathil, 2008).

Matrizes

A seleção e o manejo de novilhas e vacas para reprodução contemplam uma série de decisões que devem estar atreladas a características particulares de cada animal, como, por exemplo, idade e peso corporal, época de parição, escore de condição corporal (a fêmea não deve estar nem muito magra nem muito gorda) e condição uterina/ovariana (avaliada pelo médico veterinário por meio do exame ginecológico). Esses fatores serão determinantes da fertilidade geral do rebanho e das chances de as fêmeas emprenharem, pois influenciam diretamente a puberdade em novilhas e o anestro pós-parto nas vacas (período em que a vaca permanece sem apresentar cio). Além disso, a seleção mais acurada de fêmeas passa pela precocidade sexual (idade ao primeiro cio), habilidade materna (desmamar bezerros pesados) e capacidade de produzir um bezerro por ano.

Outras decisões em relação à seleção de fêmeas provêm da necessidade de reposição e descarte de matrizes até que se estabilize o rebanho com o número máximo de bezerros produzidos por ano. Mesmo após a estabilização do rebanho, em condições normais, preconiza-se o descarte de todas as fêmeas vazias ao final do período de monta e/ou a substituição de cerca de 20% do total de matrizes pluríparas por novilhas, podendo ser escolhidas para descarte aquelas que emprenharam próximo ao final da estação de monta, isso nos casos em que a taxa de prenhez final ultrapasse os 80%.

Ainda, antes do início da estação de monta, é imprescindível realizar o diagnóstico ginecológico para a verificação de possíveis anormalidades útero-ovarianas ou até mesmo gestações não programadas provenientes da mistura acidental de lotes. Qualquer descuido nesta etapa poderá incorrer em risco ao êxito do programa reprodutivo, principalmente se este incluir a inseminação artificial. O diagnóstico de gestação deve ser realizado o mais precocemente possível após o término da estação de monta (26 dias por ultrassonografia; 45 dias por palpação retal), pois, desta forma, identificam-se com antecedência as fêmeas que deverão ser descartadas ao desmame e ganha-se mais tempo para programar a reposição de fêmeas.

A época mais indicada para as atividades reprodutivas vai depender do período mais apropriado para nascimentos e desmame. A demanda e as variações do mercado também devem direcionar o produtor em relação à época dos acasalamentos ou estação à de monta.

Estação de monta

Nas condições tropicais do Brasil, o regime de chuvas é quem define os períodos mais marcantes para o setor agropecuário: período seco e período chuvoso. Dentro desta variação anual, a disponibilidade de forragem em quantidade e qualidade suficientes para alimentar os animais direciona a época mais adequada às atividades Torres-Júnior et al. Considerações técnicas e econômicas sobre reprodução assistida em gado de corte. Rev Bras Reprod Anim, Belo Horizonte, v.33, n.1, p.53-58, jan./mar. 2009. Disponível em www.cbra.org.br 55

de monta, nascimentos e desmame. O déficit nutricional pode prejudicar substancialmente o desenvolvimento dos bezerros e a fertilidade das fêmeas, prolongando o intervalo de partos devido ao aumento do período de serviço (intervalo parto-concepção).

Devido à grande extensão territorial, no Brasil há variações na época do ano em que se estabelece a estação de monta. Na verdade, essas variações ocorrem na tentativa de contemplar uma mesma finalidade de disponibilizar forragem no período de maior necessidade tanto da vaca quanto do bezerro. Geralmente a estação de monta é iniciada no período das primeiras chuvas, quando ocorre a rebrota dos pastos (primavera) e normalmente há um aumento no percentual de fêmeas apresentando cio (Valle et al., 2000).

Nas condições do Brasil Central, este período se dá entre outubro e dezembro, e os nascimentos se concentram de julho a setembro (período seco). Desta forma, nas propriedades que preconizam o desmame aos oito meses de idade, os bezerros são separados das mães nos meses de março, abril e maio, época de grande oferta de pastagens. Esta prática favorece o desempenho do bezerro no início da recria, bem como o da vaca, que estará sem bezerro ao pé e poderá suportar melhor as restrições do período seco e melhorar a condição corporal ao parto (Valle et al., 2000).

A adoção da estação de monta, além de otimizar a utilização da forragem, ainda contribui organizando o tempo disponível para outras atividades dentro da fazenda, como, por exemplo, controle zootécnico e calendário sanitário. Apresenta também a vantagem de padronizar os lotes de bezerros e aumentar o seu peso ao desmame. Assim, faz-se a maximização dos recursos e do cronograma de trabalho, embutindo ganhos operacionais e econômicos significativos.

A duração da estação de monta também é importante para se verificar a precocidade e a fertilidade das fêmeas. Tal período não deve ultrapassar 90 dias para vacas e 60 dias para novilhas, pois, nestes casos, as fêmeas terão chance suficiente de apresentar entre 2 e 4 cios férteis e emprenharem (duração média de 21 dias entre cios) (Valle et al., 2000).

Uso de inseminação artificial em tempo fixo na estação de monta

A inseminação artificial (IA) consagrou-se mundialmente e provou ser viável técnica e economicamente para acelerar o ganho genético e o retorno econômico da pecuária (Informações..., 2008). Dentre suas vantagens, destacam-se a padronização do rebanho, o controle de doenças sexualmente transmissíveis, a organização do trabalho na fazenda, a diminuição do custo de reposição de touros, etc. Outra vantagem são os programas de cruzamento industrial com touros de raças altamente precoces e com alto ganho de peso, mas pouco adaptadas às condições tropicais e, ainda, o uso de sêmen de touros mesmo após a sua morte. Mas o principal benefício desta técnica é o melhoramento genético por meio do uso de touros provados para obtenção de crias com maior potencial de produção e reprodução (Informações..., 2008).

Para melhorar a eficiência reprodutiva, é importante ressaltar que o manejo da propriedade é fator imprescindível, considerando que as características reprodutivas são essencialmente influenciadas pelo meio ambiente e pela nutrição.

Com a evolução e o estabelecimento da técnica de IA, os problemas, como detecção de cios, baixo número de animais inseminados e principalmente a necessidade de mão de obra em tempo integral, conduziram à busca por alternativas de contorná-los, sem comprometer os índices reprodutivos (Baruselli et al., 2004). Assim, surgiram as técnicas de sincronização de cios e da ovulação que permitem a realização da inseminação artificial em tempo fixo (IATF) e possibilitam inseminar um grande número de animais (até 400 inseminações/dia) no momento mais apropriado aos técnicos e produtores, sem a necessidade de observar os cios (Ayres et al., 2006; Torres-Júnior et al., 2007).

Entretanto, somente os técnicos capacitados, como os veterinários, detêm o conhecimento da biologia reprodutiva nas diferentes raças de bovinos e, portanto, podem preconizar com consciência e segurança os programas que maximizem a eficiência com o mínimo de risco aos índices reprodutivos.

A seguir, serão feitas considerações práticas sobre os resultados de uma pesquisa recente realizada por Penteado et al. (2005) em uma fazenda comercial localizada no estado do Mato Grosso do Sul. Os autores avaliaram o efeito de diferentes tipos de manejo sobre o desempenho reprodutivo de matrizes Nelore durante uma estação de monta (EM) de 90 dias em condições de campo. Um total de 597 vacas lactantes entre 55 e 70 dias pós-parto foram divididas em 4 grupos:

1. (Grupo Touro) - somente touro do início até o final da EM (n=149);

2. (Grupo IA convencional) - IA com detecção de cio por 45 dias seguido de touro até o final da EM (n=150);

3. (Grupo IATF+Touro) - IATF no início da EM seguido de touro até o final da EM (n=150);

4. (Grupo IATF+IA) - IATF no início da EM, seguido de IA com detecção de cio por 45 dias e seguido de touro até o final da EM (n=148).

Em todos os tratamentos, foi utilizada a proporção de um touro para 30 vacas.

Na Fig. 1, está ilustrado o delineamento do método utilizado na pesquisa.

Torres-Júnior et al. Considerações técnicas e econômicas sobre reprodução assistida em gado de corte. Rev Bras Reprod Anim, Belo Horizonte, v.33, n.1, p.53-58, jan./mar. 2009. Disponível em www.cbra.org.br 56

Figura 1. Esquema dos diferentes tipos de manejo adotados na estação de monta. Camapuã, MS, 2005.

*US = Diagnóstico de gestação por ultrassonografia aos 30, 70 e 120 dias após o início da EM

A taxa média de prenhez à IATF foi de 52,5%, e as taxas de prenhez nos lotes sem IATF vs. com IATF foram, respectivamente, de 33,8% vs. 69,4% aos 45 dias e de 84,1 vs. 92,3% aos 90 dias de EM.

O percentual acumulado de vacas prenhes em cada tratamento durante todo o período da EM está apresentado na Fig. 2.

Dias de estação de monta

Figura 2. Taxa de prenhez acumulada de vacas Nelore submetidas a diferentes tipos de manejo em estação de monta. Camapuã, MS, 2005.

Analisando os resultados apresentados na Fig. 2, observa-se que os animais que receberam sincronização e foram inseminados em tempo fixo (IATF) tiveram antecipação de aproximadamente 22 dias na concepção e parto subsequente, aumento de 8,2% na taxa de prenhez final, além do aumento no número de prenhezes obtidas por IA.

Avaliação técnica e financeira do emprego de tecnologias no manejo reprodutivo de bovinos de corte

Os prejuízos mais visíveis e fáceis de serem identificados na pecuária de corte ocorrem quando as fêmeas não conseguem emprenhar, ou quando há perdas no período próximo ou imediato ao parto. Entretanto, outros fatores de igual importância devem ser considerados, tais como antecipação dos partos na eficiência reprodutiva da estação de monta subsequente, valorização e ganho genético das novilhas de reposição, aumento do peso ao desmame dos bezerros, diminuição da idade ao abate de novilhos, além do ganho no valor comercial

Taxa de prenhez acumulada (%) Torres-Júnior et al. Considerações técnicas e econômicas sobre reprodução assistida em gado de corte. Rev Bras Reprod Anim, Belo Horizonte, v.33, n.1, p.53-58, jan./mar. 2009. Disponível em www.cbra.org.br 57

dos bezerros por comporem lotes altamente homogêneos e produzidos por inseminação artificial.

Com base nos resultados da pesquisa de Penteado et al. (2005) e considerando que o protocolo de IATF custa em torno de R$ 45,00/vaca (R$ 20,00 dos hormônios + R$ 15,00 do sêmen + R$ 10,00 dos serviços zootecnista/veterinário), será apresentado, a seguir, um cálculo básico do custo-benefício associado ao uso de biotécnicas de reprodução assistida em rebanhos comerciais de corte (Tab. 1).

Tabela 1. Cálculo da estimativa do custo-benefício do uso de sincronização para inseminação artificial em tempo fixo (IATF) em 1.000 vacas de corte em regime de campo. Valor por item incluído (R$)

Subtotal (R$)

Investimento

- R$ 45,00/vaca x 1.000 vacas

45.000,00

- Remuneração do capital investido

0,7% de juros/ mês x 18 meses (concepção ao desmame)

R$ 45,00 x 12,6%

5.670,00

Investimento total

50.670,00

Retorno

- Aumento de 8,2% na taxa de prenhez ao final da estação de monta

R$ 387,00a/bezerro(a) x 82 bezerros(as)

31.734,00

- Ganho Genético = +10kg/bezerro(a) no peso ao desmameb

R$ 2,20a/kg x 10kg = R$ 22,00 x 525c bezerros(as)

11.550,00

- Antecipação de 22 dias na concepção

22dias x 0,5kg/ganho de peso do(a) bezerro(a)/dia = 11kg

R$ 2,20/kg de bezerro(a) x 11kg = R$ 24,20 x 525 bezerros(as)

12.705,00

- Antecipação da concepção/parto/desmame (consumo de pasto pela matriz)

22 dias x R$ 0,40d/dia (aluguel de pasto) = R$ 8,80 x 525 matrizes

4.620,00

Retorno total

60.609,00

Retorno total – Investimento total

9.939,00

Retorno/vaca – Investimento/vaca (1.000 matrizes)

9,93

Ganho da IATF em relação à monta natural

19,61%

sábado, 12 de fevereiro de 2011

Redução de hérnia umbilical em equinos

Segue algumas imagens da redução de hérnia umbilical, realizada em uma potranca de sobre ano.